
A nossa língua da cabeça aos pés
Diego Bernal
Pé do latim pedem significa, nos diferentes padrons de galego-português, as extremidades inferiores das pernas dos seres humanos. Um bom exemplo visual é o pé gigante do Abaporu da pintora modernista Tarsila do Amaral, o quadro mais representativo da pintura brasileira.
No entanto, as línguas mudam com o passar do tempo e no português brasileiro pé alargou marcadamente a sua semántica dando lugar a novos usos, em alguns casos inéditos nas variedades europeias do português.
Pé, que em galego e lusitano também tem o significado de planta -pé de couve-, passou a substituir em muitos casos os nomes das árvores no português do Brasil. As mangueiras viram pé de manga, as jaqueiras pé de jaca e as laranjeiras pé de laranja, como acontece no livro mais vendido da literatura brasileira O meu pé de laranja lima de José Mauro de Vasconcelos.
No Brasil serviu, além do mais, como raiz de palavras compostas: pé-quente -pessoa sortuda- e pé-frio -pessoa azarada-; pé-de-moleque -doce típico de amendoim ou chão empedrado-; pé-sujo -caracteriza bares ruins, de baixa qualidade-; pé-de-chinelo –ruim, desvalorizado-; pé-no-chão umha pessoa realista; e base de locuçons: andar/estar no pé –pessoa chata e grudenta-; pegar no pé –amolar-; meter o pé -ir embora-; bater o pé –ser teimoso, manter a opiniom fortemente-.
Os pés estám, aliás, presentes em frases feitas como a galega meter o pé na poça -errar, enganar-se- ou a brasileira enfiar o pé na jaca -cometer um excesso-.
Porém, nom fôrom apenas os pés que servírom de base para a formaçom de novos vocábulos. Muitas outras partes do corpo seguírom o mesmo caminho na outra beira do Atlántico. Assim um cabeça-aberta é quem é transigente e respeitoso com o diferente; miolo-mole é, polo contrário, pouco esperto e cara-de-pau, folgado, sem-vergonha, aproveitador; queixo-duro é umha pessoa respondona e mal-educada enquanto que nariz-em-pé é arrogante, alguém que se acha. Aquele que fai escolhas ruins é um dedo-podre; dedo-duro -e dedo-durar- é um delator, um espiom –em Portugal bufo-; um forreta é um mão-de-vaca; um peito-aberto alguém muito amigável e gentil e mão-pesada esse professor exigente que tira ponto por todo. Perna-de-pau é jogador ruim; olho-gordo esse indivíduo invejoso; boca-grande quem não consegue guardar um segredo; zé-buceta um otário; e um cu-doce, quem quer alguma cousa mas fai charme, finge que não quer. Por último, bater-papo é conversar de maneira informal além de falar pola internet.
Afinal a língua, embora fique presa na boca, é falada por todos nós da cabeça aos pés.
Itens relacionados (por tag)
- Já disponível o 'Compêndio atualizado das Normas Ortográficas e Morfológicas'
- Pequena crónica de um encontro singular. Para Fernando Venâncio.
- Dicionário Visual da Através Editora, belo e eficaz recurso para a aquisiçom e aperfeiçoamento do léxico galego (e português)
- Prontuário de Apelidos Galegos, ferramenta básica para umha cabal regeneraçom dos nossos nomes de família
- A Associaçom de Estudos Galegos em memória do companheiro Afonso Mendes Souto
374 comentários
These are really wonderful ideas in concerning blogging.
You have touched some good factors here. Any way keep
up wrinting.
%%
%%
This web site really has all the info I needed about this subject and didn't know who to
ask.
%%
1494
makulatura-sp.ru
видео фильмы онлайн сериалы смотреть
музыка
мультик канителька капризулька
Дом дракона Дом Дракона
Deixe um comentário