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Pequeno tratado de regions demarcadas. (Prontuário para amigos e iniciados de ambas margens do rio Minho)

Pequeno tratado de regions demarcadas. (Prontuário para amigos e iniciados de ambas margens do rio Minho)

Joám Lopes Facal

A Região Demarcada do Douro foi criaçom do Marquês de Pombal para delimitar o mais prezado território de vinho de qualidade. Boa denominaçom para aludir á distribuiçom territorial de identidades com sabor próprio. Infelizmente, as regions demarcadas comportam fronteiras e estas, obstáculos á livre circulaçom.

Desculpem o exórdio; as regions a que eu queria aludir som as variedades que configuram o movimento reintegracionista, por ordem de idade: AGAL, AGLP, AEG.

Vem a conto este pequeno mapa por um recente debate no PGL em volta de umha breve crónica de José Carlos da Silva acerca da recusa de Angola a assinar o AO 90 devido a discrepáncias com a sua formulaçom por desatender particularidades e “exceções à regra” da variedade angolana do português.

Achei significativa a recusa como aviso oportuno ao constrangimento da norma galega a um modelo como o AO 90 relevante apenas para tentar abrandar o contencioso linguístico luso-brasileiro. A adopçom de novidades deveria temperar-se, penso eu, no respeito às especificidades das diversas variantes e as suas tradiçons.

Do meu ponto de vista nom há muitas vantagens em mudanças gráficas sobrevindas que nos afastem da imagem e a raiz etimológica da língua usada embora respeite a opiniom de que estes escrúpulos procedam de umha discutível preferência da vista sobre o ouvido. Ou quem sabe se da discrepáncia entre um ouvido exigente frente a outro preguiçoso.

Em todo o caso, decidim expor-me à eventual polémica formulando a questom da possível pertinência da posiçom angolana para a o caso recorrente da normativa do galego. Como era previsível, a pergunta acabou desatando umha viva polémica com mais de oitenta intervençons (1), estimulantes e civilizadas a maioria embora nom faltasse algumha de tonalidade mais desabrida ou condescendente, nom rara no confronto de preferências e identidades.

A amplitude e temperatura do debate demonstram, mais umha vez, o persistente interesse da questom linguística e das identidades grupais contendentes e, o mais confortante, o crescente interesse polo presente e o futuro do galego nos segmentos ilustrados mais atentos da sociedade portuguesa e brasileira. As opinions procedentes de Portugal, tanto as de um amigo habitual e esperto na matéria como Fernando Venâncio como as de um actor mais recente mas igualmente criterioso e informado, como Luís Trigo, nom defraudárom. Ambos com contributos cordiais e e próximos ante o problema aberto — com menos equaçons do que incógnitas, infelizmente — do processo de recuperaçom do galego em chave «nom secessionista», quer dizer, soberana quanto ao castelhano e coordenada ortográfica, morfossintática e lexicalmente com as variedades lusa e brasileira, em acertada formulaçom do Carlos Garrido.

Na minha opiniom, o teor argumental das intervençons de procedência portuguesa contribui a moderar o entusiasmo lusocêntrico que vigora em território reintegracionista. As pretensas virtudes coesivas do ditongo "-ão" — sentenciadas há anos num luminoso artigo de Fernando Venâncio — ou a imagem e miragem da lusofonia desconstruídas com elegáncia dialéctica por Eduardo Lourenço, fam parte essencial para mim do esclarecimento intelectual da heterogénea constelaçom galaico-portuguesa. Em negativo fotográfico luzem irredutíveis os "–om" e "–am" da galegofonia secular, indissolúveis na miraculosa água régia do português internacional, de incerto significado.

Talvez nom seja inoportuno rever o mapa de regions demarcadas do reintegracionismo sine ira et studio diante do patente afastamento do horizonte de culminaçom do empenho originário.

As regions demarcadas do reintegracionismo tenhem o inequívoco ar de família que lhes confere a comum procedência da AGAL, nascida em 1981 e consagrada precocemente no Estudo Crítico de 1983. A comum filiaçom virou em inesperada dispersom quer por fugida ao elísio português quer por volta ao compromisso com a Galiza como tarefa.

O progressivo afastamento da AGAL do seu propósito fundacional e a sua honrosa história ponteada polos Estraviz e os Corredoira, os Souto Cabo e os Iriarte, como nos recordava na esse atento espectador dos avatares reintegracionistas que é Fernando Venâncio, é um fenómeno sem explicaçom.

Certamente, o objectivo originario foi-se afastando sem remédio empurrado polo rechaço frontal das entidades gestoras do idioma comodamente acampadas nos pórticos do poder. E também e sobre todo, o esforço empenhado viu-se desafiado pola imparável presença do português na rede, nas viagens, na música, no convívio. Rechaço doméstico frontal escrito em verba orçamentária frente a convite gratuito ao convívio internacional irreprochável.

Nesta situaçom, a tentaçom de arrombar o galego sem remorso nem pudor no rincom das línguas mortas pode chegar a fazer-se irresistível. Mudar para quê se o português está aí ao alcance esperando pacientemente com Rodrigues Lapa?

Passa o tempo, depois de um breve período preparatório nasce a Academia Galega da Língua Portuguesa, AGLP, em setembro de 2008. A titulaçom académica do novo foro pode suscitar algumha perplexidade mas nom deixa de ser um rito celebratório do triunfo definitivo do galego (im)possível em brilhante formato internacional. Umha espécie de AGAL instalada no ponto de fuga da ruda adversidade urgente de Pondal.

O tempo corre, convoca-se Assembleia da AGAL para o 24 de outubro de 2016; umha esmagadora maioria consagra o tránsito da norma original á lusográfica, eufemisticamente recebida como confluência normativa. Desta apressada fuga adiante nasce a Associaçom de Estudos Galegos, AEG, com a intençom de perseverar na norma reintegracionista original. A nova denominaçom tem também a sua carga semántica, o substantivo estudo que a individualiza remete para umha nova revista, a Kallaikia, na tradiçom de pensar a circunstáncia adversa em chave publicística: A nossa Terra (1916 – 1932), Nós (1920 – 1936), Grial (1963 em adiante). A Kallaikia aponta a um voluntarios reinício com a moral de resistência como única garantia.

Nada melhor para compreender o cerne da inevitável cissom de 2016 que a dissoluçom imediata da veterana Comissom Linguística da AGAL, despossuída já de tarefa e de sentido, e a sua migraçom para a AEG. Membros históricos da extinta CL-AGAL passam a desempenhar a mesma funçom na AEG: Beatriz Bieites, Maurício Castro, Jorge Rodrigues, Carlos Garrido, José António Souto, Paulo Valério.

AGAL, AGLP, AEG: três regions demarcadas de desigual peso e origem comum pavimentam o acidentado caminho da reabilitaçom da língua galega em chave portuguesa. Superados os inevitáveis receios de toda separaçom truamática, nom falta camaradagem na república reintegracionista. O trabalho sobre o galego herdado (AEG) convive com a vocaçom diplomática na ecúmene portuguesa (AGLP) e com a decidida promoçom da escrita em português e o empenho futurista de incorporá-lo ao sistema educativo galego (AGAL). A proposta binormativista que tenta promover a AGAL parece ceder de bom grado a gestom quotidiana da língua ao arbítrio da Junta de Galiza, com reserva de domínio sine die sobre a difussom educativa do português quando ela chegar. O desenvolvimento da Lei 1/2014, do 24 de março que suporta a incorporaçom do português às salas de aulas galegas — a Lei Paz-Andrade referendado no Parlamento Galego por empenho do activismo reintegracionista — vai com calma como corresponde ao inenarrável entusiasmo do partido de Manuel Fraga polo idioma vernáculo. Entretanto, as Escolas Semente, seguem abrindo-lhe passo à educaçom galega das crianças sem apoio nem desmaio com o afouto concurso da tribo reintegracionista. Regions demarcadas em traço ténue, sabores diversos, tentativas provisórias ante um horizonte vedado.

Um sucinto questionário de perplexidades pode servir de convite à reflexom:

**Pode existir algumha correlaçom entre extracçom urbana e a condiçom de neopacticante e preferência polo cosmopolitismo português versus experiência rural e adesom ao galego herdado?

**É possível observar algum viés de preferência dos círculos independentistas — penso em meios como Novas da Galiza, por exemplo — por algumha das três regions demarcadas?

**Qual é o papel desempenhado polas Escolas Oficiais de Idiomas na evoluçom das três regions da república reintegracionista?

**Poderia ser previsível umha futura coordenaçom das três modalidades num foro cooperativo unitário?

**Está condenado o reintegracionismo a seguir desempenhando um papel residual nos espaços de de informaçom e opiniom?

**Será possível romper a côdea do nacionalismo banal e a da razom de estado que obturam o reconhecimento da singularidade nacional e linguística da Galiza pola sociedade portuguesa?

** Podemos esperar um contexto político mais propício às teses reintegracionistas quando o domínio da direita na Galiza mudar e a tese plurinacional do Estado avançar como reclama a nova esquerda?

(1) http://pgl.gal/retificar-ratificar-acordo-ortografico/

Última modificação emSexta, 26 Outubro 2018 18:06
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