
A peta do senhor conselheiro
Carlos Garrido
O senhor conselheiro mente, ou fala sem saber. O Sr. Román Rodríguez, conselheiro de Educaçom e Cultura do Governo Galego, acaba de afirmar, numha entrevista que neste passado domingo reproduzírom vários jornais do país (os mesmos que, enquanto cobram do Governo Galego chorudos subsídios por promoverem o galego, subordinam e menorizam lastimosamente a nossa língua) que «Galicia non ten un problema de coñecemento do galego, [já que] case o 100% dos cidadáns o coñece e domina a nivel oral e escrito» (v., p. ex., La Región, 29.1.2017: 30). Isto, senhor conselheiro, nom é verdade, como sabe qualquer pessoa que, como eu, pretende viver em galego, enquanto cidadao culto, na Galiza atual. No entanto, agora nom me vou referir, que podia fazê-lo sobejamente, à luita quotidiana que temos de travar todos os galegos cultos com compromisso lingüístico para nos fazermos entender, sem rebaixarmos muito a galeguidade do nosso discurso (eis a chave da questom!), por parte de demasiados comerciantes, médicos, enfermeiros, empregados, funcionários, gerentes, advogados, juízes, docentes, alunos, telefonistas, etc., etc. Nom, aqui, para lhe mostrar a natureza radicalmente falaz, ou desinformada, da sua afirmaçom, vou recorrer à minha experiência, já de cerca de vinte anos, como professor na Universidade de Vigo de traduçom de inglês e de alemám para galego, e vou expor-lhe parte dos resultados de umha prova de conhecimento de léxico galego básico que venho realizando, desde há quatro anos, aos meus alunos da disciplina «Traduçom Inglês-Galego (2)» (c. 35 alunos por turma), da Graduaçom em Traduçom e Interpretaçom. Repare!
Encontrando-se entre as minhas obrigaçons laborais ler, rever e corrigir inúmeras traduçons e redaçons em galego de alunos da Graduaçom em Traduçom e Interpretaçom, labor que levo feito assiduamente durante os últimos vinte anos, estou em condiçons de garantir-lhe que som pouquíssimos (c. 20 %?) os estudantes que chegam à minha matéria sabendo colocar corretamente na oraçom os pronomes átonos, dominando na prática a distinçom entre os pronomes te (de CD) e che (CI) e sabendo utilizar com correçom e eficácia o infinitivo flexionado, para me referir aqui apenas a três aspetos fundamentais da morfossintaxe de um galego, tanto oral como escrito, que queira reputar-se minimamente genuíno, ou de qualidade, na feliz expressom do Prof. Xosé Ramón Freixeiro Mato.
Todavia, ainda mais desesperançoso que a morfossintaxe é o capítulo do léxico. Observe estes três resultados, demolidores na sua significaçom, do teste de conhecimentos básicos de léxico galego que levo fazendo durante os últimos quatro anos aos meus alunos no início do terceiro ano da Graduaçom em Traduçom e Interpretaçom: a) à questom «Menciona um sinónimo nom científico da palavra galega serpente (ou serpe)», em média, só 22 % dos inquiridos deu a resposta certa cobra!; b) perante a instruçom «Verte para galego a oraçom castelhana “Pedro es el hermano mayor”», em média, só 24 % dos alunos proporcionou a equivalência correta, ou seja, «(O) Pedro é o irmao mais velho»!; c) à questom «Qual é o equivalente galego da palavra inglesa cork e da castelhana corcho?», em média, só 20 % dos meus estudantes respondeu corretamente, isto é, cortiça!
Senhor conselheiro, hoje, umha ampla maioria (75-80 % na minha experiência docente!) de jovens universitários galegos de cerca de 20 anos, com bacharelato de letras, nom sabe, entre outras destrezas expressivas fundamentais, colocar em galego os pronomes átonos, distribuir corretamente os pronomes te e che e usar o infinitivo flexionado, ignora as palavras galegas cobra e cortiça e nom é capaz de construir em genuíno galego o comparativo de idade… Na mesma linha, seria possível sustentarmos que esses jovens universitários dominam, ou sequer conhecem bem, o castelhano se, nessa língua, nom soubessem (que sabem!) utilizar os tempos compostos com haber, nom fossem capazes de conjugar verbos irregulares como andar ou utilizar a passiva reflexa (só a perifrástica), ou se pensassem que o comparativo de idade é *más viejo, ou se desconhecessem as palavras culebra e corcho? Evidentemente, nom! Também nom parece provável que os meus alunos universitários destes últimos quatro anos, ou vinte anos, representem as «ovelhas tresmalhadas» do sistema educativo e cultural galego, e que, noutros amplos setores da juventude, ou da sociedade, o conhecimento e o uso ativo do galego (culto, escrito) seja hoje bem melhor… Nom acha o mesmo, senhor conselheiro?
Conclusom inevitável (para qualquer conselheiro de Educaçom de qualquer Governo Galego): perante a gigantesca, esmagadora, desvantagem sociocultural que entre nós o galego continua a padecer frente ao castelhano (nunca, até agora, eficazmente atenuada pola açom de algum governo galego), um sistema educativo com tam magra presença da língua autóctone da Galiza como o atual, e que incompreensivelmente renuncia na prática às imensas possibilidades compensatórias e estimuladoras que acarretaria para o nosso idioma o reconhecimento conseqüente da unidade lingüística galego-portuguesa, nom pode produzir resultados que validem afirmaçons tam arrebatadamente otimistas como a do senhor conselheiro de Educaçom acima transcrita. Em ausência de milagres, fora de terras de portento e maravilha (ou de sistemas educativos com eficaz imersom lingüística no código menorizado!), teses como essa, proclamada no contexto em que foi proclamada, chamam-se em bom galego, recorrendo a umha palavra cujo desconhecimento por parte de quase cento por cento dos nossos atuais alunos universitários se revela assaz confirmatório, umha peta (= cast. trola). Com o devido respeito.
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